Cultura

Siga este roteiro de arte urbana em Lisboa

Nos últimos anos, Lisboa tornou-se uma das capitais mundiais da arte urbana.

Francisca Dias Real e Renata Lima Lobo

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Vhils, Bordalo II, Aka Corleone, Smile, ±MaisMenos±, Tamara Alves ou Mário Belém são alguns dos nomes mais sonantes neste roteiro de arte urbana em Lisboa. A eles juntam-se artistas de todo o mundo, que escolhem Lisboa para servir de tela aos mais variados estilos e mensagens. Se por um lado Lisboa está em guerra com taggers com pouco talento para a coisa – e que fazem questão de espalhar assinaturas por tudo quanto é sítio –, por outro a cidade é cada vez mais um museu a céu aberto de belíssimas obras de arte urbana. Embarque connosco num passeio alternativo pela cidade.

A Rua é Sua do Colectivo Artístico Boa Hora Estúdio

Foram várias semanas de rodopio de baldes e tintas em torno do Mercado de Arroios. As cores tomaram conta do chão e os desenhos do Colectivo Artístico Boa Hora Estúdio revelaram-se à população que todos os dias ali passa. Onde antes estavam carros estacionados, agora circulam pessoas e instalam-se esplanadas. Era essa mesmo a intenção do projecto A Rua é Sua, lançado pela Junta de Freguesia de Arroios em articulação com a Câmara de Lisboa e Galeria de Arte Urbana: reduzir a velocidade da circulação automóvel e o estacionamento desregrado e criar as condições de agradabilidade e segurança necessárias para as pessoas se apropriarem do espaço público, de o tornarem seu.

Mural em Arroios de Mariana Duarte Santos

Numa empena lateral à igreja, na Rua Nova do Desterro, há razões para quem por ali passa ganhar outro ânimo, ou pelo menos pára para observar momentaneamente a nova obra de arte urbana sob a chancela da Galeria de Arte Urbana (GAU), da Câmara Municipal de Lisboa, e em parceria com a Junta de Freguesia de Arroios. Mariana Duarte Santos, habituada a trabalhar com pintura a óleo, desenho, gravura e mais recentemente pintura de mural, é quem assina a obra que tem como base o trabalho do fotógrafo Artur Pastor, um dos grandes nomes da fotografia portuguesa do século XX. A fotografia de Artur Pastor que serviu de inspiração à artista está no Arquivo Municipal de Lisboa – que integra no seu acervo desde 2011 o fundo deste fotógrafo – e retrata um merceeiro de uma loja tradicional que existiu em tempos nesta zona da freguesia, na década de 50, “fazendo recordar a todos que por lá passam a vida das pessoas, os usos e tradições, bem como as memórias das gentes que existiram outrora”, pode ler-se numa publicação da Junta de Freguesia de Arroios.

Abrigo do Apeadeiro de Marvila de LS

Depois de obras de requalificação promovidas pela Infraestruturas de Portugal, o Apeadeiro de Marvila está de cara lavada, foi intervencionado pelos artistas LS e Styler (pode ver a obra mais abaixo nesta lista). Nesta intervenção mais recente, LS acabou por pintar rostos do bairro de Marvila neste abrigo do Apeadeiro, tendo o artista representado várias etnias para uma obra inclusiva que fosse o espelho do bairro.

Lisboa Menina e Moça de Mário Belém

A fachada da biblioteca Manoel Chaves Caminha, na Avenida Rio de Janeiro, está mais colorida e florida, graças à mais recente encomenda da Junta de Freguesia de Alvalade que decidiu dedicar ao fadista Carlos do Carmo, que morreu a 1 de Janeiro, uma obra de arte urbana, a Lisboa Menina e Moça. O mural é da autoria do artista Mário Belém, que não quis cair no chavão óbvio da varina e substituiu a figura por uma menina e moça sentada numa pilha de livros – fado esse que desde a morte de Carlos do Carmo passou a ser a canção de Lisboa. A imagem é complementada com outros elementos alusivos à cidade como um vinil de Carlos do Carmo, um manjerico, o Santo António, monumentos, eléctricos e até um corvo. A obra demorou seis dias a ser finalizada e entra para o roteiro de arte urbana da Junta de Freguesia de Alvalade como a 17.ª obra do bairro. Essa rota pode ser consultada aqui.

Campo Chicago dos Halfstudio

Se leu com atenção a edição da Time Out Portugal dedicada à arte urbana saberia que vão aparecer por Lisboa mais campos desportivos transformados em obras de arte. Depois de Akacorleone tratar do campo do Campo Mártires da Pátria, há mais uma intervenção do género no mítico campo de basquetebol Chicago, no bairro dos Lóios, em Chelas, que ganhou cor por culpa dos Halfstudio. A dupla não se desviou daquilo pelo qual são conhecidos – o lettering. Nesta intervenção pode ler-se Chicago, o nome pelo qual “Maninho” baptizou o local nos anos 90, aberto a qualquer pessoa. O projecto de revitalização deste campo esteve a cargo da Hoopers – plataforma para praticantes e fãs de basquetebol que combina e promove campos, conteúdos e produtos – da Câmara Municipal de Lisboa e da Junta de Freguesia de Marvila. Pode ler mais sobre a história do espaço aqui.

It’s all in the eyes de D*Face

Dean Stockton é um dos grandes, mas talvez as campainhas só comecem a soar se lhe chamarmos D*Face, um dos maiores nomes da arte urbana a nível mundial. O artista britânico mudou-se de latas e bagagens para Lisboa durante umas semanas para deixar marca no Parque das Nações, o bairro onde vai decorrer a 4.ª edição do Festival MURO, de 22 a 31 de Maio de 2021. O mural gigante está lá para ver e ser visto, até porque estas paredes além de ouvidos, têm olhos. Está a meia dúzia de passos da Estação do Oriente, na Avenida Aquilino Ribeiro Machado, e dá-lhe uma razão para parar, olhar e ser olhado pelos pares de olhos que D*Face deixou por lá na sua estreia em Portugal.

Antes perdida por aqui algures, do que a caminho de nenhures... de Mário Belém

Ao abrigo do Programa de Arte Pública da Galeria Underdogs em parceria com a Galeria de Arte Urbana (GAU) da CML, 2021 arranca com uma nova obra do artista Mário Belém. A obra “Antes perdida por aqui algures, do que a caminho de nenhures..” ⁠⁠ocupa uma longa empena de um prédio no número 2 da Rua Damasceno Monteiro, na Graça, e foi desenhada ainda durante o primeiro bloqueio em Portugal, em 2020. “Na altura, a ideia era reflectir como passamos a maior parte do tempo de costas para o mundo, a olhar para nós próprios, com saudades de experiências passadas, lê-se numa publicação da GAU. Num segundo confinamento, contexto em que a obra foi pintada, a mensagem parece adquirir um significado mais forte na esperança de que melhores dias virão, menos cinzentos e mais floridos.

Adapta de Add Fuel

Diogo Machado, conhecido como Add Fuel, quis que a intervenção fosse feita precisamente no bairro da Graça e que representasse a transição do antigo para o novo, que criasse novos padrões de azulejos com os já existentes nos prédios vizinhos. "O trabalho é sobre a forma como cada um de nós, através da nossa tentativa de nos mantermos felizes no meio das adversidades e do desconhecido, se adapta", explica o artista em comunicado. A obra ADAPTA pode ser vista na Rua da Senhora da Glória, na Graça, e está inserida no Programa de Arte Pública da Underdogs, em parceria com a CML e GAU.

A Lata Delas (2020)

O projecto A Lata Delas regressou para uma 2.ª edição mas continua firme na sua premissa:  promover a arte urbana no feminino. A primeira leva da iniciativa levou Margarida Fleming, Maria Imaginário, Tamara Alves e Patrícia Mariano a colorir paredes em Entrecampos. Desta vez, as pinturas foram feitas no muro da Casa Maria Droste, na Estrada da Luz, em Carnide. As artistas? Krus, Mariana PTKS e Mariella Marioky Gentile.

Apeadeiro de Marvila de LS e Styler

Depois de obras de requalificação promovidas pela Infraestruturas de Portugal, o Apeadeiro de Marvila está de cara levada, foi intervencionado pelos artistas LS e Styler. Do trabalho conjunto, que alia a geometria colorida de LS ao fotorrealismo de Styler, resultou um conjunto de elementos identitários do bairro para ver na Azinhaga dos Alfinetes (perto da Biblioteca Municipal).

Equality de AkaCorleone

Do Festival Iminente de 2020 ficaram no Panorâmico de Monsanto algumas obras incríveis. A que talvez dê mais nas vistas é assinada por Akacorleone, que tomou conta do enorme janelão junto as escadas em espiral do edifício. A obra Equality faz lembrar um vitral, quer comunicar com “o espaço de forma a criar um diálogo entre a monumentalidade e decadência características do Panorâmico”. A peça quer transformar o ambiente consoante a luz que incide na instalação.

Until You and I die and die and die again…, de Tamara Alves

O universo de Tamara Alves ganhou formas além do papel ou das paredes que pinta e das histórias que acompanham as suas obras, passou a ter dimensões bem reais. Um carro velho, de onde brota natureza, e um lobo no cimo do automóvel – como a cereja no topo de qualquer bolo. A peça “Until You and I die and die and die again…”, feita no Iminente 2020, representa um “universo que evoca e invoca a visceralidade primordial contida no uivo inconformado enquanto metáfora para a coragem que nos falta para capturarmos, para nos agarrarmos àquilo que nos falta”, lê-se no comunicado.

Cama de betão, de Wasted Rita

Esta é, como diz a artista, uma escultura em betão sobre o início do fim do mundo. O nome? Passamos a enunciar: “Sleeping beauty but make it awake, not beauty, wearing the same sweatpants for 2 months, not waiting for a kiss from a prince, but avoiding zoom calls, eating vegan, reading Samantha Irby, watching Survivor and trying to deal with all the tragedy going on in the world”. É difícil de decorar, mas isso pouco importa porque a peça que surgiu no âmbito do Iminente 2020 é perceptível a todos. Uma grande cama de betão ocupa um dos varandins do Panorâmico onde qualquer se pode sentar ou deitar para ver as vistas ou olhar para o tecto. É a representação do quão duro este ano está a ser.

In Depth de Add Fuel

Diogo Machado, mais conhecido por Add Fuel, gosta de brincar e reinterpretar a linguagem tradicional do azulejo e transformá-la em intervenções actuais. Nesta peça feita para o Festival Iminente 2020, o artista explora o espaço negativo – In Depth trabalha a técnica de stencil multicamadas numa estrutura de metal. A quem observa gera-se um jogo tridimensional que pode ser visto de várias perspectivas, criando “uma ilusão de profundidade de sombras e volumetrias, que joga com a exposição ao ângulo solar”.

Mural em Benfica de Tomás Reis, Edis One e Pariz One

A Junta de Freguesia de Benfica lançou uma sondagem no Facebook para que os fregueses elegessem 15 personalidades de destaque associadas ao bairro. Os nomes mais votados ficam agora marcados a tinta na Rua das Garridas, junto ao Palácio Baldaya, pelo artista Tomás Reis, que fez os desenhos, e pelos artistas urbanos do bairro, Edis One e Pariz One, responsáveis pela pintura. O músico Carlos Paredes, o actor Vasco Santana, o escritor António Lobo Antunes, os actores António Feio e Ruy de Carvalho, a actriz Beatriz Costa, o humorista e argumentista Nuno Markl e as cantoras Ana Bacalhau e Lena D’Água são algumas das personalidades que figuram na obra.

Mural do Compromisso de Smile1art

É o mais recente mural na cidade e ocupa uns módicos 1000m². Não é coisa pouca. É assinado pelo artista Ivo Santos, conhecido por Smile1art, e fica na Avenida Calouste Gulbenkian, resultado de uma iniciativa do programa Lisboa Capital Verde Europeia numa parceria com a Galeria de Arte Urbana - GAU. Chama-se Mural do Compromisso e vem afirmar a união da cidade no caminho da sustentabilidade. Foram cerca de 200 as entidades que assumiram em Janeiro deste ano o Compromisso Lisboa Capital Verde Europeia 2020 - Ação Climática Lisboa 2030, onde se comprometiam a implementar medidas de poupança energética, adopção de meios de mobilidade sustentável ou a redução e separação dos resíduos.

Balance de AkaCorleone

Com 91 litros de tinta, 24 litros de endurecedor e cinco litros de diluente, o artista AkaCorleone pintou o polidesportivo do Campo Mártires da Pátria. A obra tem 14x25 metros, chama-se BALANCE e, como descreve o artista, representa “a busca do verdadeiro equilíbrio, da dualidade perfeita entre duas pessoas, duas equipas, dois lados, duas realidades”, num local que “reúne diariamente pessoas diferentes, de idades e contextos diferentes”. Planeado há muito, o projecto chegou a parecer “uma miragem”. Tal como o equilíbrio, foi difícil concretizá-lo, mas agora está “aberto para todos aproveitarem”.

25 de Abril pandémico de André Carrilho em Sete Rios

No dia da Revolução dos Cravos, o jornal Diário de Notícias dava espaço na sua capa a um cartoon exclusivo do ilustrador André Carrilho alusivo ao 25 de Abril e à própria da pandemia. Agora, a mesma ilustração ganha cor e dimensão na estação de Sete Rios. Foi através da Galeria de Arte Urbana | GAU que a iniciativa se concretizou e viu a luz do dia em plena estação de Sete Rios, por onde passam centenas de pessoas diariamente. Está instalada numa parede que dá acesso ao edifício do lado da Avenida Columbano Bordalo Pinheiro. A ilustração mostra uma criança de máscara a segurar um cravo de onde sai um arco-íris, o símbolo de esperança adoptado durante o período de confinamento e que se viu em janelas de todo o país acompanhado da frase “Vai ficar tudo bem”.

Festival MURO Lx 2019

O Muro – Festival de Arte Urbana mudou-se para o Lumiar em 2019, depois de no ano passado ter acontecido em Marvila. Quando visitar o bairro, faça o favor de andar de cabeça no ar (sem apanhar torcicolos) e encher os olhos com a paisagem colorida que mais de três dezenas de artistas deixaram em empenas de prédios ou murais. Por lá os portugueses Glam, Miguel Brum, Mosaik, MynameisnotSEM, Tamara Alves, Utopia ou Pantónio, os italianos Peeta e Fulviet, o argentino San Spiga, e o espanhol NSN997 são os responsáveis pelas pinceladas mais recentes.

Lince ibérico de Bordalo II

Esta instalação do artista urbano Bordalo II, um lince ibérico de dimensões titânicas, está na Gare do Oriente para pôr Lisboa a pensar no desafio da emergência climática. O novo morador do Parque das Nações, que se junta ao famoso Gil da Expo 98, é um lince ibérico criado, como é habitual, a partir de materiais reutilizados.

Mural de Frederico Draw e Ergo Bandits

Uma das características maiores da arte urbana é a sua efemeridade e a facilidade com que pode ser substituída por uma outra obra, de um outro artista. Foi o caso. Esta é a nova obra dos artistas Frederico Draw e Ergo Bandits, feita no âmbito da inauguração da Casa da Cultura de Cabo Verde, na Rua de São Bento, junto ao Largo Hintze Ribeiro.

Elevador de Entrecampos de Vanesa Teodoro

Vanessa Teodoro, artista sul-africana radicada em Lisboa, foi convidada pela EMEL para finalizar a intervenção do elevador e do espaço superior da passagem de peões em Entrecampos. A identidade visual dos seus trabalhos não deixa grande margem para dúvidas sobre a sua autoria, definida por padrões gráficos e elementos figurativos. Nesta sua última aventura, a intervenção foi inspirada em padrões africanos e na pop art. A artista optou por usar apenas o preto e o branco, para garantir uma maior harmonia entre as várias frentes.

Ignorantism de Fuzi

Já é certo e sabido que assim que entra uma exposição na Galeria Underdogs sairá sempre uma intervenção artística numa qualquer rua de Lisboa. No seguimento da exposição individual “Ignorantism”, o artista italiano Fuzi deu o ar da sua graça, na Rua da Cintura do Porto de Lisboa, junto ao Cais do Sodré.

Tributo a Amália Rodrigues de Smile

A propósito do projecto Casal Ventoso Sempre BIP/ZIP, o artista português SMILE pintou um mural em tributo à fadista Amália Rodrigues na Quinta do Cabrinha. A figura da cantora aparece em grande plano, acompanhada no seu fundo, semelhante a uma parede rasgada, por alguns versos da famosa canção “Cheira a Lisboa”.

A Lata Delas (2019)

Lisboa continua a ser coberta com o papel de parede mais cool: a arte urbana. O mais recente projecto da Galeria de Arte Urbana (GAU) teve o cunho de quatro mulheres artistas que deixaram a sua marca na Estação Ferroviária de Entrecampos – numa parceria com as Infraestruturas de Portugal. “A Lata Delas” foi entregue a Tamara Alves, Margarida Fleming, Patrícia Mariano e Maria Imaginário, que reproduziram o cenário de uma autêntica galeria com as obras das quatro artistas – cada uma com estilos distintos. Percorra a estação que tem vários quadros isolados ao longo de vários muros.

Mural Marielle Franco de Vhils

O Iminente 2018 já lá vai, mas para recordar mais uma edição do festival ficaram as marcas, fortes e políticas. Este ano num novo espaço, o Panorâmico de Monsanto, Vhils juntou-se à Amnistia Internacional para exigir justiça pelo assassinato de Marielle Franco. Alexandre Farto fez aquilo que sabe melhor e esculpiu a vereadora brasileira numa das paredes interiores do Panorâmico, a propósito do festival. Se não teve a felicidade de ter visto o mural durante o Iminente, olhe, sorte a nossa esta ser uma das peças a ficar por aqui para ser vista, revista e fotografada. O Panorâmico está aberto de segunda a domingo, das 09.00 às 19.00.

Estátua de Pichi&Avo

Pichi&Avo são o duo espanhol que gosta de juntar tudo no mesmo tacho: a arte clássica e a rebeldia do graffiti. E foi exactamente isso que fizeram no mais recente mural em Lisboa, na Calçada de Santa Apolónia. Juntaram muita cor à receita e o resultado foi este que pode ver aqui – uma grande figura escultórica sobreposta a tags infinitos na lateral do prédio. O traço de Pichi&Avo é conhecido pelas pinceladas grosseiras, que se encontram com um desenho mais cuidado. O mural foi feito no âmbito da exposição “Versus”, na Galeria Underdogs.

Abolição da pena de morte de Mário Belém

Nem precisa de ir mais longe. Depois de ver o mural de Pichi&Avo na Calçada de Santa Apolónia, desça a rua e deite o olho à obra de Mário Belém. Para celebrar os 150 anos da abolição da pena de morte em Portugal, a Galeria de Arte Urbana convidou o artista para ocupar parte de uma parede e o seu muro contíguo. Mário usou cores mais vivas, como o amarelo, o laranja e os azuis, num claro contraste com os tons mais escuros que a morte sugere. A obra está dividida em três: a imagem da vida representada pelas flores; a da morte, com o esqueleto; e a frase de celebração.

Cruzamento da Rua da Bica do Sapato com a Rua Diogo Couto.

REAL de ±MaisMenos±

Será que o espelho reflecte mesmo o real? Mais ou menos. Nesta instalação de Miguel Januário, conhecido por ±MaisMenos±, uma das laterais exteriores do Panorâmico de Monsanto é ocupada com uma película espelhada que compõe a palavra REAL, uma forma de explorar a dicotomia urbano/natural, uma vez que a obra espelha a mancha verde de Monsanto em redor do miradouro. A instalação já foi parar ao Instagram de muito boa gente, durante o festival Iminente 2018, e pode continuar a ser vista por lá, até que a natureza e o tempo os separe.

Monocromático de WK Interact

Já é premissa obrigatória da Underdogs que sempre que algum artista inaugura uma exposição na galeria tem de criar um mural na cidade, e foi exactamente isso que WK Interact fez. O artista francês radicado em Nova Iorque assume que sempre quis deixar algo para as pessoas que vêm a seguir a ele. Dito e feito. Debaixo do viaduto do eixo Norte-Sul, entre a Alta de Lisboa e a Ameixoeira, ergueu-se um mural gigante a preto e branco.

Big Trash Animals de Bordalo II

Bordalo bateu recordes com a sua primeira grande exposição em nome próprio. E claro que a par disso houve mais uns tantos animais da série Big Trash Animals à solta por Lisboa. Dois deles estão no Beato, onde decorreu a exposição “Attero”: um macaco gigante (na Rua de Xabregas) e um sapo (na Rua da Manutenção). O outro viajou até Santos – uma raposa gigante encastrada num edifício devoluto na Avenida 24 de Julho. Há mais animais da série Big Trash Animals por Lisboa: o Guaxinão numa parede do Centro Cultural de Belém; o Trash Puppy, construído um mês depois ao pé da rotunda de Cabo Ruivo; um porco na Rua do Rio Douro; uma abelha gigante dentro da LX Factory; e uma libelinha no bar do Infame.

Talude de RAF

A Alta de Lisboa viu nascer este ano, no mês de Novembro, uma das maiores obras de arte urbana da Europa a ser feita por um só artista. Com o objectivo de transformar um elemento urbanístico pré-existente – um talude – num espaço dinâmico, a Sociedade Gestora da Alta de Lisboa (SGAL) desafiou o artista RAF a repensar o espaço. “Quando me desafiaram para trabalhar aquilo que era, na altura, um gigante bloco de cimento, imediatamente a minha cabeça se encheu de ideias. Olhando à volta, vemos prédios recentes coloridos que se misturam com a palidez de outras construções mais antigas. Decidi logo pegar no elemento cor para trabalhar este projecto, e comecei a imaginar de que forma poderia, com recurso à utilização de cor e de técnicas de aerografia, atribuir-lhe uma nova dimensão”, esclarece. O resultado está bem à vista.

Disquietheart de Tamara Alves

Tamara Alves voltou à carga para deixar a sua marca numa das paredes junto ao nosso parente Time Out Market, no Largo D. Luís (Cais do Sodré). A obra foi inspirada nas palavras do escritor José Saramago – “Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo o dia”. Disquietheart é uma obra feita no âmbito dos Dias do Desassossego.

Louvor da Vivacidade de Add Fuel

Em 1959, a Câmara Municipal de Lisboa instalou em quatro escadarias da Avenida Infante Santo painéis de azulejos de Maria Keil, Alice Jorge, Júlio Pomar, Rolando Sá Nogueira e Carlos Botelho. Em 1994 chega o painel cerâmico de Eduardo Nery, encomendado para Lisboa Capital Europeia da Cultura. Mas há cinco escadarias da avenida e faltava decorar a que dá acesso à Rua Joaquim Casimiro. E havia uma escolha artística mais ou menos óbvia. Desta vez o convite partiu da Junta de Freguesia da Estrela e chegou ao ilustrador e artista urbano Add Fuel (Diogo Machado), conhecido por reinterpretar o design tradicional dos azulejos portugueses.

Universal Personhood de Shepard Fairy

Universal Personhood é o nome de uma série de trabalhos de Shepard Fairey, o artista americano também conhecido como Obey Giant, o homem que criou o famoso cartaz "Hope" de Obama. Pois bem, Shepard veio a Lisboa por ocasião da exposição "Printed Matters Lisbon" na Galeria Underdogs e deixou um legado (mais ou menos efémero como toda a arte urbana) junto ao 69 da Rua da Senhora da Glória (Graça). A peça é única. O significado desta série é o apelo aos direitos iguais para mulheres de todas as etnias e religiões e Obey quis partilhar a construção desta obra de 5mx14m com Vhils que ficou encarregue de completar a segunda metade do mural no seu estilo artístico.

Rua da Senhora da Glória, 69.

Breaking Bad de Odeith

Sérgio Odeith, o artista urbano famoso internacionalmente por pintar murais que saltam das paredes, pôs a descansar a sua tendência para obras anamórficas a três dimensões no seu mural de eleição na Damaia. Ali pintou a sua série preferida. Porquê? “Foi para mim a melhor história, em que todos os actores representaram um papel brilhante. Estes dois são os que mais marcam a série”, explicou à Time Out Lisboa. E não é por acaso que Walter White e Jesse Pinkman moram neste muro da Rua Dr. Francisco Sousa Tavares. “Pinto aqui há cerca de 20 anos, quase como se o muro fosse meu. Fica perto de casa e toda a gente respeita. O que quer dizer que as peças ficam intactas até envelhecerem”. Antes de ficarem com rugas arriscamos dizer que vão participar em muitas sessões fotográficas, entre fãs de Odeith, de Breaking Bad e de ambos. Totalmente pintado a spray “sem qualquer outra técnica, nem recorrendo ao uso de projectores, o que torna a pintura mais natural”, a obra de 16 metros de comprimento e quatro de altura demorou apenas quatro dias a ficar concluída. Odeith já perdeu a noção do número de murais que criou por todo o mundo. É que, além de em Portugal, já pintou nas ruas do Dubai, Espanha, Inglaterra, Alemanha, Israel, USA, Brasil, Panamá, Malta, entre outros. Também já foi tatuador, mas em 2008 fechou o estúdio e rumou a Londres, onde chegou a trabalhar num barbeiro jamaicano. Agora não pensa sair “do nosso bonito Portugal”.

Rua Dr. Francisco Sousa Tavares

Calçada de Vhils

Podíamos escolher uma parede rebentada artisticamente. Mas ainda há muito boa gente que não sabe quem é o autor desta obra chamada Calçada que mora no largo entre a paragem do eléctrico 12 na Rua de São Tomé e a Rua dos Cegos (a caminho das Portas do Sol). O autor é mesmo Vhils e este foi o seu primeiro projecto feito em calçada, a partir de um convite do cineasta luso-francês Ruben Alves. Após o sucesso de A Gaiola Dourada, Ruben foi desafiado pela Universal France a criar um álbum referência de fado com a nova geração de fadistas a cantar Amália. Foi assim que se atirou de cabeça para um projecto que celebra a portugalidade e que junta Alexandre Farto (o artista que conhecemos por Vhils), os calceteiros de Lisboa, Celeste Rodrigues (irmã de Amália), quase todos os novos fadistas da nossa praça (de Ana Moura e Gisela João a António Zambujo e Ricardo Ribeiro) e até Bonga e Caetano Veloso. Parece complicado, mas não é. Criar o álbum não foi suficiente para o ambicioso realizador, que convidou Vhils para desenvolver uma obra única e marcante com o rosto de Amália, imagem que será a capa do disco e foi assentada pela nata dos calceteiros da cidade. Para ficar a conhecer as suas principais paredes e peças criadas fora de portas desde 2007, explore este mapa interactivo.

Iemanjá de Finok

O artista brasileiro aproveitou a sua passagem por Lisboa em 2015, onde passou parte da infância, para trazer um pouco do Brasil às ruas da cidade, mais precisamente a um prédio na Rua Manica, junto ao aeroporto. De ascendência espanhola e japonesa, espelha nas suas obras a multiculturalidade do Brasil. Finok, actualmente um dos mais produtivos artistas paulistas, ajudou-nos a interpretar este mural. Os motivos escolhidos para a roupa são brasileiros, mas também portugueses, como as flores na parte superior. Na verdade, a figura representa uma baiana, mas Iemanjá é a deusa do mar, esse monstro que liga Brasil a Portugal. O boneco integrado nos brincos da imagem é a assinatura de Finok: pode encontrá-lo em todas as suas obras. Já os desenhos do rosto representam a diversidade étnica do Brasil, entre índios, africanos, europeus e orientais. Choveu no dia em que o pintou, então Finok decidiu que queria incluir as malditas gotas no seu trabalho.

Mural de azulejos de André Saraiva

André Saraiva apresentou no Jardim Botto Machado (junto à Feira da Ladra) um megalómano mural com 188 metros de comprimento, 1011 metros quadrados de área e precisamente 52738 azulejos. André, luso-francês, ficou conhecido nos anos 90 com o seu alter ego Mr. A, uma personagem que também funciona como a sua assinatura e que se espalhou por algumas cidades europeias. Este mural reinterpreta a cidade com alusão a alguns dos principais monumentos, misturados com outros elementos, como uma Torre Eiffel.

Desassossego de Akacorleone

Num prédio da Rua Damasceno Monteiro, junto ao Miradouro Senhora do Monte, apareceu no início do ano este mural. Mas só apareceu de repente para os mais distraídos, porque Akacorleone (Pedro Campiche para os amigos) demorou "cinco ventosos dias" a realizar a obra visível mesmo para quem está no Martim Moniz. O convite partiu dos próprios inquilinos – aka vizinhos do artista – que tinham acabado de repintar a fachada, alvo de tags e graffitis não solicitados. “Eles queriam de alguma forma prevenir isso, por isso contactaram-me para intervir na fachada. Foi uma coincidência interessante, porque vivo perto e é uma fachada que gostava de pintar já há algum tempo", explicou. A obra contou com o apoio da Galeria Underdogs, que disponibilizou o material e acompanhou o processo em vídeo. Chama-se Desassossego, já que "representa de uma forma bastante livre a personagem que mais representa a cidade de Lisboa, Fernando Pessoa, num sonho psicadélico".

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